"Muitos homens modernos sensatos devem ter abandonado o cristianismo pela pressão de três convicções convergentes como estas: primeiro, a convicção de que os homens, com sua forma, estrutura e sexualidade, são no fim das contas muito semelhantes às feras, uma simples variedade do reino animal; segundo, que a religião primitiva surgiu da ignorância e do medo; terceiro, que os sacerdotes imprimiram na sociedade as marcas da amargura e da melancolia.
Esses três argumentos anticristãos são muito diferentes; mas são todos muito lógicos e legítimos; são todos convergentes. Percebo que a única objeção a eles é que são todos falsos. [...]
Constataríamos a mesma coisa se examinássemos o segundo dos três argumentos racionalistas escolhidos aleatoriamente: o argumento de que tudo o que chamamos de divino começou em alguma espécie de escuridão e terror. Quando tentei examinar os fundamentos dessa idéia moderna, simplesmente descobri que não havia nenhum. A ciência não sabe absolutamente nada sobre o homem pré-histórico, pela excelente razão de ele ser pré-histórico. Alguns professores escolhem conjeturar que fatos como o sacrifício de seres humanos eram outrora considerados inocentes e gerais; depois foram gradativamente diminuindo. Mas não dispomos de nenhuma prova direta, e a pequena quantidade de provas indiretas aponta muito mais para o contrário disso.
Nas lendas mais antigas a nosso dispor, como as histórias de Isaque e de Ifigênia, o sacrifício humano não é apresentado como algo tradicional, mas sim como uma novidade; como uma estranha e assustadora exceção misteriosamente exigida pelos deuses. A História não diz nada. E todas as lendas dizem que a terra era mais amável nas épocas mais antigas. Não há uma tradição do progresso; mas toda a raça humana tem uma tradição da Queda. É de fato bastante engraçado ver que a própria disseminação dessa ideia é usada contra a sua autenticidade. Os eruditos dizem literalmente que essa calamidade pré-histórica não pode ser verdadeira porque todas as raças da humanidade se lembram dela. Eu não consigo acompanhar esses paradoxos."
G. K. Chesterton, Ortodoxia
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