A postagem anterior, feita pelo celular, ficou
incompleta. Então, lá vai:
Em atenção ao pedido feito ontem por um leitor, segue um texto
mais longo, publicado nO Globo, para que nenhum "socialista
bolivariano" leia e faça comentários.
Marxistas ou
bolivarianos?
Bolívar foi
descrito como um membro da rica elite local, aristocrata educado no exterior,
inapto como comandante militar, vaidoso ao extremo.
‘Era filho de uma das famílias mantuanas
que, no período da supremacia espanhola, constituíam a nobreza crioula da
Venezuela. Em consonância com o costume dos americanos ricos da época, ele foi
mandado para a Europa aos 14 anos de idade. Da Espanha, seguiu para a França e
residiu em Paris por alguns anos.
“De pé sobre um carro triunfal, puxado por
doze jovens vestidas de branco e enfeitadas com as cores nacionais, todas
escolhidas entre as melhores famílias de Caracas, Bolívar, com a cabeça
descoberta e uniforme de gala, agitando um pequeno bastão, foi conduzido por
cerca de meia hora, desde a entrada da cidade até sua residência.
Proclamando-se ‘Ditador e libertador das Províncias Ocidentais da Venezuela’,
formou uma tropa de elite que denominou de sua guarda pessoal e se cercou de
pompa própria de uma corte. Entretanto, como a maioria de seus compatriotas,
ele era avesso a qualquer esforço prolongado, e sua ditadura não tardou a
degenerar numa anarquia militar, na qual os assuntos mais importantes eram
deixados nas mãos de favoritos, que arruinavam as finanças públicas e depois
recorriam a meios odiosos para reorganizá-las.
“Bolívar tornou a se reunir com os outros
comandantes na costa de Cumaná, mas, ao ser recebido com rispidez e ameaçado
por Piar de ser levado a julgamento na corte marcial por deserção e covardia,
retrocedeu prontamente para Los Cayos.
“Piar, o conquistador da Guiana, que
outrora havia ameaçado levar Bolívar à corte marcial como desertor, não poupava
de ironias o ‘Napoleão das retiradas’ e, por conseguinte, este aprovou um plano
para se livrar dele. Sob as falsas acusações de ter conspirado contra os
brancos, planejado um atentado contra a vida de Bolívar e aspirado ao poder
supremo, Piar foi levado a julgamento por um conselho de guerra presidido por
Brion, condenado, sentenciado à morte e fuzilado em 16 de outubro de 1817.
“Com um tesouro de uns 2 milhões de
dólares, obtidos dos habitantes de Nova Granada mediante contribuições
forçadas, e dispondo de uma tropa de aproximadamente nove mil homens, um terço
dos quais compunha-se de ingleses, irlandeses, e outros estrangeiros bem
disciplinados, coube-lhe então enfrentar um inimigo despojado de todos os
recursos e reduzido a uma força nominal de 4.500 homens, dois terços dos quais
eram nativos e, por conseguinte, não podiam inspirar confiança nos espanhóis.
[...] Se Bolívar tivesse avançado com arrojo, suas simples tropas europeias
teriam esmagado os espanhóis, porém ele preferiu prolongar a guerra por mais
cinco anos.
“Bolívar já não julgou necessário manter a
aparência de ser o comandante supremo, delegou toda a condução dos assuntos
militares ao general Sucre, e se restringiu às entradas triunfais, aos
manifestos e à promulgação de constituições. Por meio de sua tropa de
guarda-costas colombianos, manipulou a votação do Congresso de Lima, que, em 10
de fevereiro de 1823, transferiu para ele a ditadura. [...] Ali, onde as
baionetas de Sucre imperavam, Bolívar deu livre curso a suas inclinações para o
poder arbitrário, e introduziu o ‘Código Boliviano’, numa imitação do Código
Napoleônico.
“O que Bolívar realmente almejava era
erigir toda a América do Sul como uma única república federativa, tendo nele
próprio seu ditador. Enquanto, dessa maneira, dava plena vazão a seus sonhos de
ligar meio mundo a seu nome, o poder efetivo lhe escapou rapidamente das mãos.”
Um membro da rica elite local, aristocrata
educado no exterior, inapto como comandante militar, vaidoso ao extremo,
dependente da ajuda dos próprios “imperialistas” para “libertar” seu povo,
tirano e covarde: assim essas linhas retratam Simón Bolívar. Quem teria escrito
uma biografia tão negativa do herói (ou mito) latino-americano? Algum
conservador reacionário? Um golpista de direita, talvez?
Nada disso. Trata-se da biografia que Karl
Marx escreveu para atender a um pedido (pago) de Charles Dana para a “New
American Cyclopaedia”, em 1857. O tom do texto, excessivamente ríspido,
despertou a atenção do contratante, que chegou a reclamar com o autor. Em carta
a seu amigo Engels, Marx explicou seus motivos: “No que concerne ao estilo
preconceituoso, certamente saí um pouco do tom enciclopedístico. Seria
ultrapassar os limites querer apresentar como Napoleão o mais covarde, brutal e
miserável dos canalhas.”
O problema é que nossos marxistas não leem
Marx. Bolivarianismo e marxismo são como água e óleo: não se misturam. É
preciso escolher: ou um, ou outro. Defender ambos é impossível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Cinco dicas para um comentário responsável:
1. Não comente sem deixar o nome.
2. Não desvie o foco do assunto.
3. Não acuse ninguém daquilo que você é
4. Não utilize de linguagem grosseira.
5. Não escreva o que não pode provar
-------------
OBS: A moderação deletará comentários não aprovados.